terça-feira, 23 de junho de 2009

100 Dívidas!

Respire fundo porque vamos falar de dinheiro. Poucos assuntos conseguem ser ao mesmo tempo mais estressantes e mais fascinantes. Duvida? Basta ver o que diz a sabedoria popular. Você, com certeza, já ouviu (ou repetiu) algumas das frases a seguir - e pensou no que elas realmente significam:

- Dinheiro não traz felicidade. (dinheiro traz problemas)
- Lave as mãos depois de mexer com dinheiro. (dinheiro é sujo)
- Fulano só pensa em ganhar dinheiro. (fulano deve ser desonesto)
- Não se fala de dinheiro à mesa. (dinheiro é indecente)

Esse preconceito torna mais difícil lidar com o fato de que dinheiro é mais significativo em nossa vida do que o sexo. Duvida? Acesse a internet, abra qualquer ferramenta de busca e exercite um pouquinho seu inglês, a língua oficiosa da rede mundial. Se digitar "sex , você vai encontrar 727 bilhões de páginas. É bastante, mais do que qualquer pessoa pode conseguir ler, mesmo que dedique toda a vida a isso. Porém, se você digitar "money , vai encontrar 1,33 trilhão - isso mesmo, trilhão - de páginas, quase o dobro das menções ao sexo. Não é um acaso. Uma pessoa pode viver sem sexo por opção (ou falta de), mas viver sem dinheiro é impossível, exceto para eremitas que moram em cavernas, cultivam a própria comida e tecem as próprias roupas, trocando o que produzem pelo que precisam.

Na sociedade moderna, a maioria das relações humanas é medida e mediada pelo dinheiro. O dinheiro que você tem define onde você mora, o que come, como se veste e se desloca, sua educação e sua saúde. Por isso, ricos e pobres, materialistas e desprendidos, avarentos e perdulários, todos têm de saber lidar com dinheiro, pois ele permeia todos os aspectos da vida. Essa é a notícia ruim.

A notícia boa é que lidar com dinheiro parece difícil, mas não é: requer apenas a aplicação sistemática de algumas práticas simples. VIDA SIMPI.ES ouviu especialistas e descobriu que os princípios básicos não são complicados. Com um pouco de disciplina, você pode ter uma relação amigável com seu dinheiro. Vamos lá.

Aprenda a controlar


O segredo em lidar com o dinheiro está em uma palavra: sistemática. Lidar com dinheiro é mais ou menos como lidar com a água da casa. Se você gastar mais do que recebe, vai faltar. Você pode consumir ou desperdiçar água, da mesma maneira que pode fazer isso com seu dinheiro. Ao tomar um copo de água em um dia quente de verão, você está usando muito bem um recurso precioso. Se deixar uma torneira aberta enquanto escova os dentes, é um desperdício. Com o dinheiro, é a mesma coisa.

O problema é que somos convocados a gastar a cada momento. Faça um exercício simples na próxima vez que sair à rua. Tente contar quantas mensagens dizendo "compre meu produto" chegam até você nos primeiros cinco minutos de percurso. Podem ser placas, faixas, mensagens em ônibus, comerciais de rádio e mensagens no telefone celular, ou até mesmo o tradicional alto-falante gritando "Pamonhas, pamonhas, pamonhas". Se estiver caminhando ou dirigindo por um trecho urbano, você verá pelo menos dez mensagens, duas por minuto.

Com tantos estímulos, é fácil perder o controle de quanto você gasta. Cheques pré-datados, cartão de débito e cartão de crédito foram pensados para facilitar o consumo, não para garantir a saúde financeira do consumidor. Essa responsabilidade é sua. E aí não tem jeito. É preciso controlar, uma atividade que tem de ser tão rotineira quanto escovar os dentes. Por isso, a regra de ouro para lidar com seu dinheiro é a seguinte: gastou? Anote.

Parece simples demais, mas você não faz idéia de como anotar todos os seus gastos ajuda a controlar suas finanças. Isso quer dizer exatamente todos. Mesmo que sejam 10 centavos para comprar uma bala na padaria da esquina. Depois de três meses adotando essa disciplina, reserve uma tarde de domingo, arme-se de coragem, abra uma garrafa de vinho ou acenda um incenso e analise cuidadosamente seus gastos. Some todas as vezes que você comprou roupas que nunca usou, livros que nunca leu, quando saiu para comer fora sem realmente estar com vontade.

Você vai se encher de horror ao perceber que 1) gasta muito dinheiro e 2) uma boa parte dos seus gastos é desnecessária. Ao anotar cada centavo que sai do seu bolso, você poderá tomar cuidado para evitar os vazamentos. "Sem controle, é fácil gastar demais", diz Marcos Crivelaro, PhD em finanças e professor da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap). "Controlando, a pessoa pode calcular se está usando bens o dinheiro."

Funciona? Um exemplo deve motivar você. O banqueiro americano John Pierpont Morgan (1837-1913) foi um dos homens mais ricos do mundo. Tinha tanto dinheiro que seu banco funcionava como Banco Central dos Estados Unidos, que na época não tinham essa instituição. Morgan organizou a maior siderúrgica e a maior ferrovia do mundo e boa parte das obras de arte que se encontram no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, veio de sua coleção pessoal. Alguém tão rico não precisaria se preocupar com os gastos, mas em uma viagem a França perto dos 70 anos, Morgan anotou em um dos cadernos que sempre levava consigo que havia gasto 10 centavos para comprar uma garrafa de água.

O essencial é descobrir uma ferramenta de controle que seja uma solução, não um problema. Há vários programas de computador dedicados ao controle de gastos. Uma rápida busca na internet indica 12,1 milhões de páginas com menções ao tema, mas não se preocupe se você não se sentir à vontade cone computadores. Lápis e papel também funcionam desde que você anote e controle seus gastos. Quando isso se tornar um hábito, você estará pronto para adotar a segunda regra do dinheiro, que é planejar seus gastos antecipadamente.

A regra para lidar com o dinheiro é a seguinte: gastou? Anote. Você aprende a controlar

Planeje seus gastos
Vamos começar de um exemplo prático. No dia 20 de novembro, a maioria dos trabalhadores regulares recebeu o adiantamento do 13° salário. A primeira tentação é correr para o shopping. Só não se esqueça de que, mais ou menos 60 dias depois de receber esse dinheiro, você terá de pagar a primeira parcela do IPTU. Mais algumas semanas e você precisará pagar IPVA. São gastos pesados. Inevitáveis, já que o governo não perdoa. E, principalmente, você pode pagar menos imposto se liquidar a fatura à vista, na primeira prestação. Para isso, você precisa ter dinheiro no bolso - por exemplo, o que você recebeu como 13° salário.

Não é justo que você tenha de trabalhar todo um ano para entregar aquele sofrido salário a mais para o governo, um notório mau gastador. Por isso mesmo, o ideal é planejar seus gastos do início do ano, como impostos, matrícula e material escolar dos filhos e uma viagem de férias ou na virada do ano, que ninguém é de ferro. Ao controlar seus gastos e conseguir poupar um pouco, você terá dinheiro para as despesas de verão sem ter de entrar no cheque especial e ficar pagando juros até novembro de 2009, quando receber de novo o 13°.

Como planejar? Não é difícil. Você tem dois grandes grupos de despesas: as previsíveis e as imprevisíveis. As previsíveis são mensais, como comida, transporte, combustível, aluguel ou condomínio, água, eletricidade, telefone e conexão à internet. Você também tem despesas previsíveis anuais, como o IPVA, IPTU, matrícula escolar dos filhos e seguro do carro. Agora que você está anotando seus gastos, você sabe quais são suas despesas mensais. Resta agora calcular quanto serão as despesas anuais.

Uma boa estimativa é descobrir quanto você pagou no início de 2008, acrescentar uma inflação de mais ou menos 6% (basta multiplicar por 1,06) e você saberá um valor aproximado. Some todas as despesas anuais e divida esse valor por 12. Pronto: você já descobriu quanto terá de poupar todos os meses para nunca mais entrar no cheque especial. Guardando esse dinheiro, você não precisará entrar no vermelho no início de 2010 ou ver seu suado 13º passando rapidamente pela sua conta e partindo para nunca mais voltar.

Falando em cheque especial, vamos falar dos bancos. Eles são ótimos: guardam nosso dinheiro, pagam nossas contas e até nos concedem crédito quando precisamos. Bancos são essenciais para o funcionamento da economia, mas eles não fazem nada de graça. Por isso, você tem de saber lidar com eles.

A palavra-chave para lidar com os bancos é relacionamento. Quanto mais negócios o cliente fizer com eles, mais vantagens terá. Por isso, concentre todas as suas contas a pagar em um único banco e prefira o débito automático.

Há várias vantagens. Você não paga nada com atraso, não pega fila e é recompensado pelo banco, que não quer você na agência. Atender um cliente na agência faz o banco gastar dinheiro com caixas, seguranças, aluguel e limpeza. Evitando essa despesa, você ganha pontos. Acumule pontos suficientes e você não vai pagar tarifas, economizando mais ainda e não precisando pedir empréstimos.

O cheque especial e o cartão de crédito são os empréstimos mais fáceis de obter. Não é necessário pedir, eles já estão lá, aprovados. Essa facilidade, claro, tem preço: mais ou menos 9% ao mês, ou 181% ao ano. Isso mesmo. Se você financiar 1000 reais no cheque especial por um ano, sua dívida vai crescer para 2 813 reais, mais ou menos. Portanto, nunca entre no cheque especial. É muito mais negócio tirar dinheiro da poupança e pagar uma dívida do que se financiar com essas taxas.

Todas essas recomendações são muito simples. Requerem apenas controle, um pouco de disciplina e a convicção de que você pode viver melhor se tiver domínio sobre o seu dinheiro. Vai até sobrar para investir. Sim, você pode se tornar um investidor. Você verá.

A poupança é mais segura, mas rende pouco. Descubra que há outras opções

Como investir


Investir dinheiro começa com a decisão de não gastar todo o seu salário e guardar um pouco para gastar depois. É a velha estratégia de poupar para fazer uma compra grande à vista, não pagando juros e pedindo desconto. Para sofisticar um pouco mais, você coloca seu dinheiro para trabalhar enquanto a hora de pagar não chega. Para isso, há um universo de produtos financeiros de investimento à sua disposição. Aqui, vamos falar dos três investimentos mais simples, as cadernetas de poupança, os Certificados de Depósito Bancário (CDB), os fundos de investimento de renda fixa e os fundos de previdência privada.

As cadernetas de poupança são o mais simples, democrático e seguro dos investimentos. É simples porque você aplica seu dinheiro hoje e daqui a 30 dias recebe o dinheiro que aplicou e um pouquinho a mais. A poupança é democrática: se você investir 50 reais ou 10 milhões de reais, vai obter a mesma rentabilidade. "Também é isenta de imposto e é segura por ser garantida até 60 mil reais. A desvantagem é que todo esse conforto tem preço, pois o investidor ganha muito pouco ao aplicar na poupança, cerca de 8% ao ano.

Como obter o melhor da poupança? Não há nenhuma diferença entre elas, por isso não adianta tentar melhorar sua rentabilidade. O que você pode fazer é usar a poupança como um trunfo na hora de negociar com o banco, escolhendo aplicar onde obtiver mais vantagens, como tarifas menores.

Os CDBs são um pouco mais sofisticados. Um banco precisa de capital para emprestar, por isso ele toma dinheiro emprestado de quem tem caixa, vendendo CDB. Eles provam que as pessoas não são iguais em termos financeiros. Os bancos pagam juros maiores para quem investe mais. Além disso, quem investe em CDB não recebe tudo o que ganhou. Eles não são isentos de imposto e é preciso dividir parte do ganho com o governo, que pode cobrar de 22,5 a 15% do ganho, dependendo do prazo da aplicação. Investimentos menores que seis meses pagam 22,5%. Aplicações mais longas pagam menos e quem deixar seu dinheiro aplicado por mais de dois anos paga 15%. Apesar dessa mordida do Leão, os CDBs têm rendido mais do que a poupança.

Como obter o melhor dos CDBs? Quanto mais dinheiro e mais tempo você tiver, melhor. Não espalhe suas aplicações por vários bancos. Reúna todo o valor e negocie uma boa taxa. E negocie bastante com o gerente, pois a regra do banco é nunca oferecer a melhor taxa logo de saída. É possível ganhar mais se você barganhar um pouco, especialmente se chegar à agência com uma grande quantia, acima de 50 mil reais, por exemplo.

O terceiro instrumento financeiro são os fundos de investimento, que funcionam como o condomínio que administra um edifício. Cada investidor é proprietário de um pedaço do fundo, e todos concordam em contratar um profissional para gerir o dinheiro. Ele realiza o trabalho cansativo de analisar continuamente as condições do mercado financeiro e ligar todos os dias para os bancos em busca das melhores remunerações. Para realizar o trabalho, esse profissional fica com uma parte do dinheiro investido, cobrando uma taxa de administração, que pode variar de 1 a 4% ao ano, e é descontada um pouco por dia.

Como obter o melhor de um fundo? Procure bastante pela taxa de administração e sempre escolha a menor. À primeira vista, pagar uma taxa de 1% não é muito diferente de pagar uma taxa de 1,5%, No entanto, a cada 100 mil reais aplicados você vai economizar 500 reais por ano se trocar o fundo que cobra 1,5% pelo fundo que cobra 1%.

Para finalizar, vamos falar de um tipo especial de fundo, os produtos de previdência privada, conhecidos por nomes complicados, como Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL) e Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL). O princípio básico desses fundos é que sua vida tem duas grandes fases financeiras. No início, você trabalha e ganha dinheiro. Depois, quando o tempo passa, você deixa de trabalhar e passa a viver do dinheiro que ganhou.

O PGBL e o VGBL são produtos financeiros destinados a facilitar a acumulação do seu dinheiro. São como os fundos de investimento, mas têm duas diferenças. A primeira, no caso dos PGBLs, é que você pode descontar o que investiu do seu Imposto de Renda a pagar, limitado a 12% de sua renda anual. Se você não gastar esse dinheiro poupado mas investi-lo no PGBL, vai acumular capital mais depressa para financiar sua aposentadoria. A desvantagem do PGBL é que você paga imposto sobre tudo o que resgatar. Os VGBLs não oferecem essa vantagem tributária na hora da aplicação, mas em compensação só cobram imposto sobre o que você ganhou, não sobre o total.

Como obter o melhor desses fundos? Antes de mais nada, tenha certeza das taxas que esses fundos cobram. Além das taxas de administração, os fundos podem cobrar taxas de carregamento, que funcionam como um pedágio na hora de investir dinheiro. Você deposita 100 reais, mas só investe 97, por exemplo. Os três reais de diferença são cobrados pelo banco ou pela seguradora para cobrir os custos do fundo. Procurar bem, aqui, é essencial.

A segunda pegada dos fundos de previdência é uma vantagem tributária. Nos fundos normais e nos CDBs, quem deixar o dinheiro aplicado por dois anos paga 15% de imposto sobre o que ganhou. Os fundos de previdência privada cobram menos. A alíquota mais baixa é de 10%, a menor de todo o mercado. Só que o dinheiro tem de ficar investido por dez anos. Você pode trocar de fundo, um recurso conhecido como portabilidade, mas não pode pôr o dinheiro no bolso. Senão perde a vantagem.

Agora, é só começar 2009 com novas propostas para seu dinheiro. Em 2010, com certeza você terá muito mais alegrias nessa área.


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