segunda-feira, 6 de julho de 2009

VIDA e Morte









por Monja Coen




Vida após a morte? Morte após a vida? Vida em vida? Morte em morte? Morte na vida? Vida na morte? Morte na morte? Vida na vida? O que veio primeiro, a morte ou a vida? Estaria tudo morto quando a vida iniciou o seu processo inusitado de dar vida à morte? Ou estaria tudo vivo quando a morte iniciou o seu processo inusitado de matar a vida? É a vida dando vida à vida? É a morte matando a morte? É a vida dando vida à morte? É a morte dando vida à vida?
Dizem os budas que não há nascer nem morrer. Então, como explicar o choro do bebê. Nasceu, não foi? E como falar do morto no caixão, sendo velado. Morreu, não foi?
Há quem adore falar com os mortos. É tão legal falar com os vivos. Não é preciso esperar que morram para ouvi-los, para falar, para pedir perdão, para querer aprender, para doar. Há seres maravilhosos hoje, agora, ao seu lado, em você. Pare e olhe para eles. Encontre e ouça a sua voz mais doce e verdadeira. É preciso encontrar, neste plano, neste instante, em cada ser, a graça do "interser". É preciso cultivar a beleza, a pureza, a bondade e as virtudes e fazer uma teia preciosa de seres iluminados, brilhando para todos os lados.
Não há tempo a perder e, ao mesmo tempo, temos toda a eternidade. O tempo não está correndo. Corremos junto com o tempo. Giramos com a Terra, que gira em tomo do Sol... Somos o tempo. Um momento.
Para onde foi o momento que eu pedi para esperar? Ele não esperou. Nada espera. Tudo flui. Fluímos com o tempo. Vivendo e morrendo a cada instante. Células que nascem e morrem. Quem quer ser eterno?

Vou mudando, crescendo, envelhecendo. A barriga cresce, depois murcha. Já não consigo andar tanto. Fico cansada por qualquer coisinha. Esqueço as coisas, esqueço as pessoas. Quando me perguntam do passado, tenho de puxar memórias que nem sei onde foram arquivadas. Surge um rosto, uma face, uma voz: "Você se lembra de mim?". Lembro? Não sei.
Eternamente vivendo cada morte instantânea de mim mesma. Presente. Presente de ser e de estar. Presente de receber e de dar.
Professora! Posso ir ao banheiro? Não. Pipi no chão. Vá buscar um pano e limpar. E a minha roupa molhada? E as minhas pernas, as minhas meias, o meu sapato? Eu pedi para ir ao banheiro. Claro que não deu tempo no recreio. Intervalo é para brincar, jogar bola. Não dá tempo de ir ao banheiro. Por que a professora não entende? Nunca foi criança, talvez? Já nasceu assim grande, professora?
Professora pode rasgar papel de aluno? Mesmo um papelzinho de recado, de desenho, de ternura, de amizade? Pode?
Direitos humanos. Quem avançou o sinal? Quem desrespeitou primeiro? Ele estava batendo no meu amigo. Fui lá e o enforquei. Ele me deu dois murros. Todos para a diretoria. Quando a gente cresce, não é para a diretoria da escola que a gente vai. Quando a gente cresce, não é a professora que rasga nossos papéis de recados queridos.
E o que fazer? Vamos vivendo... Não assim, respondendo como se fosse uma coisa corriqueira. Vivendo. Que alegria, a vida.
Com seus altos e baixos, suas memórias. Ah! Até essas podem ser roubadas.
E daí? Sem lastimar, vamos nos transformando. Sem indiferença e sem negligência.
O corpo de agora é onde tudo se manifesta. Cuide dele com carinho e respeito. Não deixe ficar balofo, doente, estressado. Cuide com o cuidado de quem só tem um. Não dá para trocar na loja. Remendos são caros e complicados. Vamos cuidar de nossa vida. A morte nos espreita, aguarda-nos. Não sinistra e temerosa. Mas nos leva sorrateira a uma viagem amorosa pelo passado e pelo futuro. Fale comigo agora. Hoje. Amanhã pode não vir. Cuide, inclua, compreenda, ajude, transforme. Já. Não há outro dia.