sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Divertimento e Silêncio



Querido Osho,
No Ocidente, a celebração está associada à idéia americana de divertimento que é sinônima de barulho, música alta, ir ao cinema, fumar, fazer sexo e liberação de energia, enquanto que silêncio e serenidade estão automaticamente associados a tédio e excessiva acumulação de energia, o que resulta em tensão e ansiedade. Você poderia dizer algo a respeito de silêncio, celebração e vida?

Chidananda, a questão que você levantou tem muitas implicações. Não é uma simples questão; ela compreende muitas questões importantes. Eu gostaria de entrar em cada dimensão da questão e somente então você será capaz de encontrar a resposta.

A primeira coisa para se lembrar é que o homem compreende dois mundos, um que o leva para fora e o outro que o leva para dentro. O homem é uma dualidade: ele é um corpo e é uma alma. E por causa desta tremenda dualidade, surgem todos os problemas do mundo. A dualidade não é apenas uma. Ela é aquilo que chamamos de “dualidade gestalt”. Numa dualidade gestalt você nunca vê ambos os mundos juntos. Se você escolhe ver um, o outro fica esquecido. Como exemplo, eu tenho falado a respeito de um pequeno livro de crianças onde existe um desenho feito com linhas simples, mas nessas linhas existem duas possibilidades: se você fixar seus olhos no desenho, você pode ver ou uma velha mulher ou uma bela garota. Você consegue ver cada uma separadamente. Se você olhar fixamente para a velha mulher, de repente você perceberá uma estranha mudança: a velha mulher desaparecerá e uma bela garota estará diante de você.
Se você persistisse em olhar fixamente... mas em geral os olhos não olham fixamente, eles se movem continuamente. O movimento é intrínseco aos seus olhos. Eles ficam cansados de olhar fixamente para uma coisa. Eles estão sempre em busca de algo novo. Por causa disso, você logo percebe a bela garota desaparecendo e a velha mulher voltando novamente ao seu lugar. Ambas são feitas com as mesmas linhas, apenas as combinações são diferentes, mas você não consegue ver ambas ao mesmo tempo. Isto é impossível. Porque se você ver a garota, onde estarão as linhas que fazem a velha mulher? E se você ver a velha mulher, você não terá linhas extras para criar a garota. Você consegue ver cada uma separadamente, mas não consegue vê-las juntas. Isto é dualidade gestalt, e esta é a realidade do homem.
O Oriente tem visto o homem somente como uma alma, como uma consciência, como um ser introvertido. Mas porque foi escolhida uma gestalt, a outra foi negada. É por isto que no Oriente, por séculos, os místicos têm negado consistentemente a realidade do mundo. Eles dizem que ela é apenas um sonho, que é maya, uma ilusão. Que esta realidade do mundo é feita da mesma matéria que os sonhos são feitos. Aquilo não está verdadeiramente ali, é apenas uma miragem, uma aparência. O Oriente tem negado o lado externo – e tem que negar devido à necessidade interna da dualidade gestalt.

O Ocidente escolheu o mundo externo e tem que negar o mundo interno. O homem é visto apenas como um corpo. Psicologia, biologia e quimica, mas não uma consciência, não uma alma. A alma é apenas um epifenômeno. E porque somente o lado externo é considerado como sendo verdadeiro, foi possível desenvolver a ciência no Ocidente. Tecnologia, milhares de aparelhos, possibilidades de pousar na lua e no vasto universo que circunda você. Mas mesmo conhecendo tudo isto, tem havido um profundo vazio na mente ocidental: algo está faltando.

É difícil para a lógica ocidental localizar com precisão o que está faltando, mas é absolutamente certo que algo está faltando. A casa está cheia de convidados, mas está faltando o anfitrião. Você tem todas as coisas do mundo, mas você não está ali. O resultado é uma tremenda miséria. Você tem todos os prazeres, todo o dinheiro, tudo o que o homem jamais sonhou, e ao final de séculos de esforços, de repente descobre que você não existe. O seu interior está oco, não há ninguém.

O Oriente também tem enfrentado sua própria miséria. Ao pensar que o mundo externo não é verdadeiro, não há qualquer possibilidade de progresso científico. A ciência tem que ser objetiva, mas se os objetos são apenas aparências, ilusões, qual o sentido em dissecar ilusões para tentar descobrir os segredos da natureza? Conseqüentemente o Oriente permaneceu pobre, faminto e submetido a todo tipo de escravidão por séculos.

Estes dois mil anos de escravidão não foram por acaso. O Oriente estava preparado para isto. Ele aceitou isto. O que interessa num sonho, se você é o senhor ou o escravo? O que interessa, se no sonho você está sendo servido com um alimento delicioso ou se você está com fome? No momento em que você acorda, ambos os sonhos se revelarão inválidos. O Oriente consentiu em permanecer morrendo de fome, em ser escravizado, e a razão é que ele escolheu uma gestalt diferente: o verdadeiro é o interior.

O Oriente aprendeu como estar silencioso e em paz, para curtir a felicidade que surge quando você mergulha fundo em sua interioridade. Mas você não consegue compartilhar isto com outra pessoa; isto é absolutamente individual. No máximo, você consegue falar a respeito. Assim, por milhares de anos, o Oriente tem falado a respeito de espiritualidade, consciência, iluminação, meditação e externamente tem permanecido um mendigo, doente, faminto e escravizado. Quem vai querer ouvir esses escravos e suas grandes filosofias? O Ocidente simplesmente tem rido disso. Mas o riso não tem sido só de um lado. O Oriente também tem rido ao ver que as pessoas estão acumulando coisas e perdendo a si mesmas.

Por milhares de anos nós temos vivido num estado de mente muito estranho e esquizofrênico.
Chidananda, você disse, ‘No Ocidente, celebração está associada com a idéia americana de divertimento.’ Isto traz uma outra implicação. Somente um homem miserável necessita de divertimento. Assim como um homem doente precisa de medicamento, um miserável necessita de divertimento. Isto é apenas uma estratégia muito engenhosa para evitar a sua miséria.


A miséria não é evitada; você somente se esquece por um tempo que é miserável. Sob a influência de drogas, do sexo ou sob a influência do que você chama de divertimento, o que na verdade você está fazendo? Você está escapando de seu vazio interior. Você está se envolvendo em todo tipo de coisas. Uma coisa da qual você sente medo é do seu próprio ser.

Isto tem criado uma certa loucura, mas porque no Ocidente todo mundo está no mesmo barco, isto se torna muito difícil de ser reconhecido. Milhões de pessoas estão assistindo futebol americano, e você chama essas pessoas de inteligentes? Então, quem você vai chamar de retardado? E não é que essas pessoas estejam apenas envolvidas em jogos como o futebol americano, elas estão pulando, estão gritando, estão brigando. E porque não existem estádios suficientemente grandes para acomodar todo o país, todo mundo está sentado grudado em sua cadeira diante da televisão. E elas estão fazendo as mesmas coisas estúpidas: sentadas em suas cadeiras, gritando...

Eu conheço um homem que, porque seu time estava perdendo, ficou tão enlouquecido que quebrou sua televisão. Eu estava com este homem e lhe disse, ‘Você está preparado para ser internado num asilo de loucos? Em primeiro lugar, futebol americano deveria ser para crianças. Você já passou dessa idade, mas mentalmente você não tem mais que doze ou treze anos. E o que você fez com sua televisão me leva a suspeitar que você não é apenas retardado, mas louco também.’ (...)

As pessoas têm se tornado tão voltadas para fora que não conseguem, nem mesmo por um simples momento, sentar em silêncio. Esta é a coisa mais difícil no mundo. As pessoas não param quietas. Qual é o medo? O medo é que você pode encontrar o seu vazio e uma vez que ele seja encontrado, a sua vida perde todo o interesse, todo o sabor, todo o sentido e significado.

Todo mundo está fugindo de si mesmo. E chamam de divertimento a essa fuga de si mesmo.
A vida do homem ocidental pode ser dividida em duas partes: a primeira é se divertindo e a segunda é tendo ressaca. Com o tempo, a ressaca se torna mais prolongada que o divertimento. E ele segue, num círculo vicioso, entre essas duas partes, desperdiçando sua vida e não chegando a lugar algum.

Não se pode dizer que chegar ao cemitério significa chegar a algum lugar. Isto simplesmente significa que agora a roda está tão cansada e tão entediada com os divertimentos e com as ressacas sofridas que ela quer descansar dentro de uma sepultura.

As pessoas descansam apenas em suas sepulturas. Fora da sepultura, não há tempo para descansar.

No Oriente, nós escolhemos a gestalt oposta. Nós descobrimos tesouros, mistérios e segredos, mas a dificuldade com o interior é que você não consegue materializá-lo. Você não consegue prova-lo no tribunal, você não consegue nem mesmo ter uma testemunha. A não ser você, ninguém, mais é permitido entrar em seu mundo interior. Naturalmente, o Oriente pouco a pouco criou indivíduos isolados. Esses indivíduos isolados foram constantemente molestados pela multidão, pelo mundo dos negócios. Eles queriam o silêncio interior, sua calma, sua serenidade sem perturbação. A conclusão foi: renuncie ao mundo, mude para o Himalaia ou para o meio da floresta onde você pode ser totalmente você mesmo.

Mas ambas as alternativas estão escolhendo metade do homem. E no momento em que escolhe metade do homem, você cai na mesma miséria. As misérias podem ser diferentes, mas é absolutamente garantido que se trata de miséria. O Oriente é miserável, devido aos seus Goutamas Budas, seus Mahaviras, Bodhidharmas, Kabirs. Ele está na miséria devido aos seus grandes exploradores do mundo interior. E o Ocidente está miserável devido a Galileu, Copérnico, Colombo, Albert Einstein, Bertrand Russell. Estas são as grandes pessoas do Oriente e do Ocidente e todas estas grandes pessoas escolheram o homem em sua metade. E esta tem sido a miséria do homem até agora.

Eu lhes ensino o homem total. A dimensão interna é tão verdadeira quanto a dimensão externa. E a externa é tão significante quanto a espiritual. Você tem que alcançar um certo equilíbrio, no qual nem o interior nem o exterior predominem, mas ambos sejam igualmente complementares, um ao outro. Isto não aconteceu até agora. Mas, a não ser que isto aconteça, não há possibilidade alguma para qualquer humanidade existir no mundo.

O Ocidente está morrendo devido ao seu próprio sucesso. O Oriente já morreu devido ao seu sucesso. É uma história muito estranha, essa que as pessoas morrem devido às suas vitórias. Escolher a metade é perigoso. Mas escolher o todo necessita coragem, insight e uma imensa compreensão. E uma mobilidade... Ir para fora e para dentro de seu ser deve ser tão simples como entrar e sair de sua casa.

Sempre que for preciso você estar no mercado, você deve estar lá com sua totalidade. O mercado não pode destruir a sua alma. Todo aquele que prega a renúncia ao mundo, está contra a humanidade. O fato de ir para dentro de si e estar num silêncio meditativo não tira coisa alguma do mundo externo. Você não tem que condenar o mundo externo, nem tem que declará-lo ilusório. Isso deveria ter sido tão simples de se ver que eu fico admirado porque milhares de anos se passaram e isto ainda não é um fato reconhecido em todo o mundo. (...)

Estas duas ideologias idiotas têm destruído toda a humanidade, a sua paz, o seu amor, a sua grandeza e a sua dignidade. Isto tem que ser restaurado. Eu nego Adi Shankara e também nego Karl Marx, ao mesmo tempo. Eu sou contra o ateísta e contra o teista, porque ambos estão tentando dividir a realidade, a qual é indivisível. O exterior não consegue existir sem o interior. Nem o interior existe sem o exterior. Eles são os dois lados de uma mesma moeda.

Mas, acredite ou não, não existe uma simples declaração em toda a história do homem afirmando que ele é um, que o seu exterior e interior não são contraditórios, mas complementares, que cada um deles não pode existir em separado e que eles devem ser usados juntos. Somente então o homem consegue crescer à sua verdadeira altura e desabrochar em seu florescimento máximo.

Chidananda, você está perguntando, ‘...associada com a idéia americana de divertimento, que é sinônima de barulho, música alta, ir ao cinema, fumar, fazer sexo e liberação de energia.’ Isto é apenas o lado de uma metade, o das pessoas que escolheram ser extrovertidas e se esqueceram de seu próprio centro interior. Mas elas estão ficando cheias disto. Agora os maiores filósofos do Ocidente, como Sorem Kierkegaard, Martin Heidegger, Karls Jasper, Marcel, Jean Paul Sartre, todos estão em absoluto acordo de que a vida é sem sentido, que ela nada mais é que tédio. E a única conclusão de todas essas filosofias é simples: a não ser o suicídio, não há outro caminho. Mas existem surpresas e surpresas: de todos esses grandes filósofos que eu citei, nenhum cometeu suicídio.

Todos estes cinco grandes filósofos do Ocidente – e eles são os mais destacados – não estão interessados em cometer suicídio, eles estão apenas interessados em escrever a respeito de náusea, falta de sentido e angústia. Todos eles chegaram à conclusão que o suicídio parece ser a única saída, mas nenhum abandonou o seu caminho. (...)

Devido ao seu sucesso, o Ocidente alcançou seu maior fracasso. E este fracasso é muito perigoso porque eles têm sob seu controle enorme poder destrutivo, bombas nucleares. (...) Os políticos estão preparados para destruir este planeta setenta vezes. Este é o sucesso da abordagem ocidental de tomar a dimensão externa do homem como sendo toda a realidade. E nada melhor aconteceu com o Oriente. Quase cinqüenta por cento da população do Oriente está faminta, morrendo, subnutrida. E ao final do século XX a previsão é de que pelo menos quinhentos milhões de pessoas morram, somente na Índia, sem contar as que morrerão na China, em Taiwan, na Coréia, no Japão. Este planeta terra não consegue suportar essa imensa humanidade que continua crescendo, a não ser que nós comecemos também a ser científicos e tecnológicos.
A ciência é capaz, mesmo agora, de dar suporte a uma humanidade sete vezes maior que a atual. Hoje existem cinco bilhões de pessoas no mundo. A ciência tem a capacidade de propiciar agora que sete vezes mais pessoas vivam confortavelmente. Mas a ciência não consegue fazer isto por conta própria. Ela precisa de mentes científicas, de pessoas que sejam tecnologicamente especialistas.

O meu entendimento a respeito do Oriente é que mesmo aquelas pessoas que foram para o Ocidente serem bem educadas em ciência e tecnologia, continuam internamente com suas velhas estupidezes. Eu tenho visto Doutores adorando um deus macaco. Eu não posso acreditar no que vejo. Às vezes eu penso que teria sido melhor ser cego. Essas pessoas que estão adorando deuses macacos, deuses elefantes – elas não têm mentes científicas. Elas podem ter tido uma educação científica, mas isto é uma coisa totalmente diferente.

Ter conhecimento a respeito de ciência é uma coisa e ser criativo a respeito de ciência é outra coisa. Ter conhecimento a respeito de meditação é uma coisa e meditar é algo totalmente diferente. O Ocidente precisa de uma mente mais meditativa e o Oriente precisa de uma mente mais científica. Então nós seremos capazes de criar uma humanidade que possa viver, sem pobreza e sem fome, uma vida mais saudável e mais prolongada, da qual não temos nem idéia.
Há cálculos científicos de que este corpo que temos é capaz de viver pelo menos trezentos anos – com alimentação correta, cuidados médicos corretos, ambiente ecológico correto, as pessoas podem viver trezentos anos. Eu nem consigo conceber que tesouros seriam revelados se um Goutama Buda conseguisse viver trezentos anos, se Albert Einstein pudesse ter vivido trezentos anos, ou Bertrand Russell.

Até agora, a maneira como temos vivido é um puro desperdício. Pessoas que são treinadas, educadas, cultas, tornam-se velhas e morrem com a idade de setenta anos. E novos visitantes, absolutamente bárbaros, sem educação continuam saindo dos úteros. Temos que forçar as pessoas a se aposentarem, e estas são as pessoas que sabem as coisas. E temos que empregar pessoas que nada sabem.

A vida das pessoas poderia se tornar mais prolongada e o controle da natalidade ser mais estrito. Uma criança deveria nascer somente quando nós estivéssemos prontos para permitir que um Bertrand Russell deixasse o mundo – apenas uma substituição, e a não ser que possamos encontrar uma substituição melhor, nós não iríamos deixar que o Bertrand Russel deixasse o mundo. E existe toda possibilidade de encontrarmos uma substituição, porque nós podemos ler todo o programa genético, todas as possibilidades pelas quais a pessoa irá passar – se ela será um pintor da qualidade de um Picasso ou se será um poeta genial como Rabindranath Tagore; quanto tempo ela irá viver, se será saudável ou doente. E não apenas podemos ler o programa futuro dos genes, mas podemos mudar esse programa também. Podemos fazer com que uma pessoa doente, desde o início seja mais saudável, e que os idiotas possam ser evitados, assim como os retardados.

A existência dá tudo com tanta abundância que se você não escolher, as coisas vão se tornar um caos. Um simples ser humano, um macho, se não for corrompido pelas religiões, terá pelo menos quatro mil vezes a oportunidade de gerar uma criança. E a cada vez ele libera um milhão de espermas. Isso quer dizer que cada macho humano pode criar toda uma Índia. Tal abundância simplesmente quer dizer que você tem que ser muito criterioso na escolha. Naturalmente nesta multidão você não pode encontrar muitos Rabindranath. O próprio Rabindranath foi o décimo terceiro filho de seus pais. Antes dele, seus pais geraram doze crianças sem qualquer genialidade. Elas poderiam ter sido evitadas. Rabindranath poderia ter sido o primeiro filho. E quem sabe quantos outros Rabindranath não estão preparando seus caminhos para entrar no mundo? Nós precisamos de uma abordagem muito científica a respeito do lado exterior e uma abordagem muito meditativa para o lado interior.

Chidananda, você está dizendo, ‘...enquanto que silêncio e serenidade estão automaticamente associados a tédio e excessiva acumulação de energia, a qual resulta em tensão e ansiedade.’ Se as coisas permanecerem do jeito que estão, isto é verdade. Se você não usar a sua energia... Com sua alimentação, com sua respiração constante, bebendo água, você está gerando energia. Ela tem que ser usada, senão ela se transforma em tensão, e por fim acabará se tornando ansiedade. Mas se a minha idéia for entendida... Eu estou dizendo que você é metade o lado externo e metade o lado interno.

Use a sua energia no mundo externo em atividades criativas, não em futebol americano. Existe tanto para ser criado, tanto para ser descoberto, um vasto universo está aí na sua frente como um desafio para ser explorado. Use a sua energia para tornar o mundo mais belo, mais poético, mais saudável.

E quando você sentir que está cansado, exaurido, vá para o lado interior. Descanse. E o seu descanso se tornará a sua meditação, porque meditação não precisa de nenhum gasto de energia. Ao contrário, ela conserva, ela preserva, ela faz de você uma concentração de grande energia. Quando você sente que a sua serenidade, seu silêncio e sua alegria interior quer dançar externamente, então dance, então cante, então crie. E se a sua criatividade vier do silêncio de seu coração, ela terá uma qualidade e um sabor diferente.

É apenas uma questão de um pouco de inteligência e equilíbrio. Dentro está a fonte de suas energias e fora está o mundo para permitir que a energia crie – seja um criador.
Mas você não consegue ser um criador a não ser que seja um meditador.

O meu sannyas tem uma nova definição; não é a definição do velho. Na velha definição, o sannyas significa renunciar ao mundo. O meu sannyas significa alegrar-se no mundo. Mas antes que possa se alegrar, você deve acumular energia de tal modo que comece a transbordar amor, sentividade, criatividade, poesia, canção, dança...

E certamente essas coisas terão a qualidade da compaixão. Elas não poderão ser violentas. Eu não consigo conceber um meditador jogando futebol americano. Eu não consigo conceber um Goutama Buda numa luta de Boxe. Mas um Goutama Buda pode criar um lindo jardim de rosas. Um Goutama Buda pode pintar. E as suas pinturas serão muito superiores às de Picasso, porque ele era quase louco. Se você olhar para as pinturas de Picasso irá perceber um tipo de doença atirada para fora. Mantenha um Picasso pintando em seu quarto de dormir e você terá pesadelos, porque aquelas pinturas vieram dos pesadelos de Picasso, pesadelos com ar condicionado.

Existiram meditadores que criaram. Você pode ver o Taj Mahal que foi criado por místicos Sufis. Observe-o numa noite de lua cheia, de repente você entrará num profundo silêncio que nunca conheceu dentro de si mesmo. Se você puder sentar silenciosamente ao lado, a beleza do Taj Mahal começará a mudar alguma coisa dentro de você. O Taj Mahal não estará mais apenas ali, do lado de fora; ele começará a se tornar parte de seu próprio ser. (...)

Existem templos na China, no Japão, na Índia criados por meditadores. Apenas por estar sentado ali você perceberá que o que era tão difícil para você, parar o seu pensamento, acontecerá por si mesmo. Toda a atmosfera do templo, a fragrância, o incenso, as estátuas...

Tudo está criando um certo espaço dentro de você.

Uma vez que a humanidade aprenda ambas as coisas juntas – o estado meditativo e a abordagem científica do mundo – nós teremos entrado numa nova fase, totalmente descontínua do passado feio, doente e louco.

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